
Em meio a um dos períodos mais desafiadores da história recente do Brasil, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID-19 no Senado Federal revelou não apenas as falhas na gestão da pandemia, mas também trouxe à luz o talento, a competência e a coragem de parlamentares como a senadora Simone Tebet. Sua atuação durante os trabalhos da comissão representou um ponto de inflexão em sua carreira política e contribuiu significativamente para o fortalecimento de sua imagem pública nacional. Este artigo analisa o papel decisivo de Tebet na CPI e como sua participação transformou sua trajetória política.
O contexto: a instalação da CPI da COVID-19
Instalada em abril de 2021, a CPI da COVID-19 foi criada para investigar as ações e possíveis omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia do coronavírus no Brasil. Em um momento em que o país ultrapassava a marca de 400 mil mortes pela doença, a comissão tinha como objetivo apurar responsabilidades, investigar o uso de recursos públicos e avaliar a eficácia das medidas adotadas durante a crise sanitária.
Embora não fosse membro titular da comissão inicialmente, Simone Tebet acompanhou os trabalhos desde o início e, posteriormente, passou a integrar o colegiado como membro suplente. Sua participação, no entanto, não se limitou ao papel formal — ela se tornou uma das vozes mais contundentes e tecnicamente preparadas durante as sessões de depoimentos.
"Não se trata apenas de política, mas de vidas. Cada número nas estatísticas representa uma família destruída, um futuro interrompido. Nossa responsabilidade é com a verdade e com a justiça para essas pessoas." — Simone Tebet, durante sessão da CPI
A preparação meticulosa: o diferencial de Tebet
O que distinguiu a atuação de Simone Tebet na CPI foi sua preparação meticulosa para cada sessão. Segundo relatos de assessores e colegas parlamentares, a senadora dedicava horas estudando documentos, relatórios técnicos e depoimentos anteriores antes de cada interrogatório. Sua formação jurídica — Tebet é advogada com mestrado em Direito do Estado — forneceu a base técnica necessária para formular perguntas precisas e identificar contradições nas declarações dos depoentes.
Diferentemente de abordagens mais confrontacionais ou puramente políticas adotadas por alguns de seus colegas, Tebet optou por uma estratégia baseada em fatos, evidências e na construção lógica de argumentos. Este método demonstrou-se particularmente eficaz para extrair informações de depoentes relutantes e para construir uma narrativa coerente sobre os eventos investigados.
Técnica de interrogatório
Tebet adotava uma técnica conhecida como "funil", partindo de perguntas amplas e gradualmente estreitando o foco até chegar a pontos específicos, dificultando que os depoentes se esquivassem de contradições. Esta estratégia foi particularmente elogiada por especialistas jurídicos que acompanhavam os trabalhos da CPI.
Momentos decisivos: os interrogatórios que marcaram sua atuação
Diversos momentos durante a CPI da COVID-19 marcaram a atuação de Simone Tebet, mas alguns se destacaram pelo impacto causado e pela repercussão na mídia e entre a população. Um deles ocorreu durante o depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, quando Tebet apresentou uma linha do tempo detalhada que evidenciava contradições entre as declarações do general e os documentos oficiais do Ministério da Saúde.
Outro momento emblemático aconteceu no interrogatório de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, acusado de pedir propina em negociações de vacinas. Com perguntas cirúrgicas e documentos em mãos, Tebet conseguiu explicitar inconsistências no depoimento que foram fundamentais para o avanço das investigações sobre irregularidades na compra de imunizantes.
No entanto, foi durante o depoimento do empresário Carlos Wizard que Tebet protagonizou um dos momentos mais comentados da CPI. Diante das evasivas do depoente, que se recusava a responder perguntas básicas sobre sua participação no chamado "gabinete paralelo" de aconselhamento ao presidente, a senadora fez uma intervenção contundente que viralizou nas redes sociais:
"O senhor pode até se reservar o direito de ficar em silêncio, mas não tem o direito de mentir a esta comissão. O silêncio aqui não é só do depoente, é o silêncio de mais de 500 mil brasileiros que não podem mais falar." — Simone Tebet, durante interrogatório na CPI
A defesa da técnica e da ciência
Um dos aspectos mais notáveis da atuação de Tebet na CPI foi sua defesa consistente da ciência e do conhecimento técnico no enfrentamento da pandemia. Em diversos momentos, a senadora confrontou declarações e políticas que contrariavam o consenso científico, posicionando-se firmemente contra a desinformação e o negacionismo que permearam parte da resposta brasileira à crise sanitária.
Durante o depoimento de médicos defensores do chamado "tratamento precoce" com medicamentos sem eficácia comprovada contra a COVID-19, Tebet questionou a base científica das afirmações e apresentou estudos e pareceres de entidades médicas respeitadas que contrariavam as posições defendidas. Esta abordagem contribuiu para estabelecer um contraponto necessário à divulgação de informações sem respaldo científico.
Embates com o governo e a busca por respostas
A senadora não se furtou a confrontos diretos com representantes do governo federal quando necessário para a elucidação dos fatos. Em uma das sessões mais tensas da CPI, durante o depoimento do então ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, Tebet o questionou sobre a demora na compra de vacinas e a resistência do governo em aceitar ofertas de imunizantes no início da pandemia.
O embate, conduzido com firmeza mas sem desrespeito, evidenciou a capacidade da senadora de exercer o papel fiscalizador do Poder Legislativo sem transformar a CPI em palco para disputas políticas pessoais. Sua postura foi reconhecida tanto por aliados quanto por adversários políticos, que destacaram seu compromisso com a busca pela verdade acima de interesses partidários.
Impacto das investigações
O relatório final da CPI da COVID-19 indiciou 78 pessoas e duas empresas por diversos crimes relacionados à gestão da pandemia. Muitas dessas conclusões foram baseadas em evidências levantadas durante interrogatórios em que Tebet teve participação ativa.
A questão do gênero: desafios adicionais
A atuação de Simone Tebet na CPI também evidenciou desafios enfrentados por mulheres em espaços de poder tradicionalmente dominados por homens. Em diversos momentos, a senadora teve que lidar com interrupções, tentativas de desqualificação e até mesmo comentários sexistas durante os trabalhos da comissão.
Em uma ocasião particular, quando foi interrompida por um colega durante um questionamento importante, Tebet respondeu com firmeza: "Não me interrompa. Eu não interrompi o senhor e exijo o mesmo respeito". O episódio, que repercutiu nas redes sociais, trouxe à tona discussões sobre o tratamento diferenciado dado a mulheres em espaços políticos.
Apesar desses obstáculos, ou talvez por causa deles, a atuação de Tebet foi vista como inspiradora por muitas mulheres, especialmente aquelas que aspiram a carreiras políticas. Sua capacidade de se impor sem perder a compostura e de defender suas posições com base em argumentos sólidos representou um exemplo poderoso de liderança feminina em um ambiente desafiador.
A repercussão nacional: um novo patamar de visibilidade
A CPI da COVID-19 foi amplamente coberta pela mídia brasileira e internacional, com transmissões ao vivo e repercussão imediata nas redes sociais. Nesse contexto, a atuação destacada de Simone Tebet projetou seu nome nacionalmente, levando-a a um patamar de visibilidade que não tinha antes, mesmo já sendo uma senadora respeitada.
Os dados de busca no Google pelo nome da senadora mostram um aumento significativo durante o período da CPI, assim como o crescimento expressivo no número de seguidores em suas redes sociais. Suas intervenções mais contundentes foram compartilhadas milhares de vezes, transcendendo o público que normalmente acompanha assuntos políticos.
Analistas políticos e de comunicação apontam que a performance de Tebet na CPI foi determinante para consolidar sua imagem como uma política séria, preparada e comprometida com os interesses públicos, atributos que seriam fundamentais para sua futura candidatura à Presidência da República.
"A CPI foi um momento de teste para muitos políticos. Alguns sucumbiram à tentação do espetáculo, outros se acovardaram. Simone Tebet demonstrou equilíbrio, preparo e, acima de tudo, compromisso com a verdade e com as vidas perdidas. Isso ressoou com o público de uma forma que poucos poderiam prever." — Ricardo Kotscho, jornalista político
O relatório final e suas contribuições
O relatório final da CPI da COVID-19, apresentado pelo senador Renan Calheiros em outubro de 2021, contou com contribuições importantes de Simone Tebet. A senadora foi responsável por capítulos específicos relacionados à análise jurídica das condutas investigadas e à questão do impacto da pandemia em populações vulneráveis.
Sua formação jurídica foi particularmente útil na fundamentação legal das acusações presentes no documento, que indiciou dezenas de pessoas por crimes como prevaricação, charlatanismo, emprego irregular de verbas públicas e crimes contra a humanidade. O trabalho técnico de Tebet foi reconhecido por especialistas em direito que analisaram o relatório.
Além disso, a senadora fez questão de incluir recomendações específicas para a melhoria da resposta a futuras crises sanitárias, demonstrando uma preocupação não apenas com a apuração do passado, mas também com a construção de um sistema mais eficiente para o futuro.
O legado para a fiscalização parlamentar
Para além de seus efeitos imediatos e das consequências políticas e jurídicas, a atuação de Simone Tebet na CPI da COVID-19 deixou um legado importante para o exercício da fiscalização parlamentar no Brasil. Sua abordagem, baseada no preparo técnico, na análise de evidências e no respeito aos depoentes mesmo durante confrontos necessários, estabeleceu um padrão de qualidade para o trabalho investigativo do Poder Legislativo.
Este modelo de atuação parlamentar contrasta com práticas que muitas vezes predominam em CPIs, como o uso de holofotes para promoção pessoal, embates ideológicos desconectados do objeto de investigação ou abordagens puramente partidárias. Tebet demonstrou que é possível exercer o papel fiscalizador com seriedade e eficácia, sem abrir mão da contundência quando necessário.
Nota histórica
A CPI da COVID-19 foi uma das mais longas da história do Senado Federal, com mais de 140 dias de duração, 80 reuniões e 61 depoimentos. Seu relatório final, com mais de 1.200 páginas, é considerado um dos mais abrangentes já produzidos por uma comissão parlamentar de inquérito no Brasil.
Da CPI à candidatura presidencial: um caminho natural
A projeção nacional alcançada por Simone Tebet durante a CPI da COVID-19 foi um fator determinante para que seu nome ganhasse força como alternativa à polarização política nas eleições presidenciais de 2022. Pesquisas qualitativas realizadas após o término da comissão mostraram que a senadora havia conquistado reconhecimento em segmentos do eleitorado que antes não a conheciam.
Atributos como preparo técnico, capacidade de diálogo e firmeza de posições — evidenciados durante os trabalhos da CPI — foram fundamentais para a construção de sua imagem como uma possível candidata à Presidência da República. A trajetória de Tebet da CPI à candidatura presidencial foi vista por muitos analistas políticos como um desdobramento natural de sua atuação destacada naquele momento crítico da vida nacional.
Conclusão: um divisor de águas na carreira política
A participação de Simone Tebet na CPI da COVID-19 representa um divisor de águas em sua carreira política. De senadora respeitada, mas com projeção majoritariamente regional, ela emergiu dos trabalhos da comissão como uma das vozes mais influentes da política nacional, com reconhecimento amplo por sua competência e compromisso com o interesse público.
Sua atuação durante este período demonstrou como momentos de crise podem revelar lideranças capazes de responder aos desafios com a seriedade e o preparo que eles exigem. Em um contexto de polarização e extremismos, Tebet se destacou pelo equilíbrio e pela capacidade de colocar a defesa da vida e da verdade acima de interesses partidários.
Para além dos resultados concretos da CPI, que incluíram indiciamentos e recomendações de políticas públicas, o papel desempenhado por Simone Tebet durante os trabalhos da comissão deixou uma marca indelével na política brasileira. Sua contribuição para a apuração dos fatos relacionados à gestão da pandemia e sua defesa incansável do valor das vidas perdidas representam um exemplo poderoso de como o exercício da função parlamentar pode servir aos mais elevados interesses da sociedade.